A taxa de abstenção em Portugal

A taxa de abstenção em Portugal
Foi no dia 25 de abril de 1975 que 91.5% da população portuguesa saiu à rua para ter a sua voz finalmente ouvida. Depois de tantos anos de ditadura e de repressão, onde prevalecia o silêncio e o medo, os portugueses tiveram a tão esperada oportunidade de escolher tanto o seu futuro como o do seu país. Mas então o que consegue explicar o facto de passarmos de uma taxa de abstenção de 8.5% para uma entre 40 e 50%? Deixaram os portugueses de se importar com tal coisa?
Muitos podem ser os factos que, na teoria, explicam esta subida imensa, como, por exemplo, a própria fidedignidade dos dados que usamos para calcular esta taxa pelos problemas de estimativas de população, os censos e também os cadernos eleitorais nem sempre atualizados. Mas, na minha opinião, isto deve-se em grande parte à culpa dos cidadãos que decidem manter-se na sua rotina e não são capazes de se deslocar às urnas para uma tarefa que lhes compete. São estes mesmos cidadãos que, após os resultados das eleições saírem, se queixam infinitamente de como o país “está cada vez pior”. São estes mesmos cidadãos que reclamam de uma democracia para a qual em nada contribuem e em nada honram aqueles que tanto lutaram para a conseguir.
Esta taxa é assustadora, na minha perspetiva, principalmente por três motivos.
O primeiro é porque há 20% mais ricos do que pobres a votar, ou seja, as pessoas que poderíamos pensar que teriam mais a ganhar em dar voz às suas preocupações são as pessoas que menos votam. Ao vigorar uma democracia, o voto é uma forma de nivelar os cidadãos por igual, tendo a vontade de cada um exatamente o mesmo peso, por isso, as pessoas que estão numa posição inferior na pirâmide social deveriam tentar reverter a situação, coisa que não acontece em Portugal. A opinião dos privilegiados destaca-se daqueles que não o são, isto que, claramente, não é sinónimo de democracia.
Outro aspeto desolador é a situação das mulheres que se abstêm. Estas não estão só a honrar uma luta pela democracia, mas também a luta feminista que tanto fez para todas nós conseguirmos ter este direito.
Por último, é de realçar o facto de que a taxa de abstenção faz-se sentir maioritariamente em pessoas com menos de 45 anos, ou seja, jovens e adultos. A ausência do hábito de votar é algo que permanece com as pessoas, e se começam assim, muito difícil será começarem a votar no futuro.
Num país que sofreu nas mãos da ditadura, acho que devemos olhar para o voto não só como um direito que adquirimos com a democracia, mas também um dever. Não podemos ficar à mercê do que os outros querem. Temos de usufruir da liberdade que renasceu no mês dos cravos e isso só conseguimos fazer de uma forma: a votar.
Mara Costa