"1984" - George Orwell

O jornal Factos & Fitas escolheu este Dia Mundial do Livro, 23 de abril, para acrescentar uma nova rubrica: “cheirinho de livros…”. Esperamos que agrade e aguardamos a participação dos nossos leitores.
“1984” – George Orwell
“Para o futuro ou para o passado, para um tempo em que o pensamento seja livre, em que os homens sejam diferentes uns dos outros. Para um tempo em que a verdade exista e o que foi feito não possa ser desfeito.” (Da obra)
A capa deste livro (li uma edição da Dom Quixote) é minimalista, tendo maior destaque um olho que possui uma câmara em vez de íris. Este detalhe é uma espécie de uma metáfora visual, que só se compreende após lermos o livro, já que faz referência ao “telecrã”.
O mundo em 1984 está dividido em três megablocos: Oceânia, Eurásia e Lestásia (que estão em constantes guerras entre si). No poder está o Partido Interno comandado pelo Grande Irmão. Estes regem as suas ações pelos princípios de que “Guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força”.
Tudo o que é dito e pensado é vigiado e controlado, não só pelo Partido em si, mas pela Polícia do Pensamento. A vida funciona de maneira que ninguém se afaste do que o Grande Irmão idealiza, que ninguém pare de viver em prol do que este quer. Desta forma, surge o “telecrã” (um aparelho presente em todas as casas que transmite propaganda, que os vigia, dá ordens e capta todos os movimentos), a “novafala” (a língua que criaram de modo a limitar o pensamento, eliminando palavras) e as infinitas regras que visam controlar a vida dos cidadãos a cada ínfimo detalhe, desde o seu nascimento até à sua morte. Não é à toa que as crianças eram incentivadas a denunciar a sua própria família para que desde pequenos a sua realidade fosse a que o Partido desejava que fosse.
É neste mundo que vive Winston Smith, a personagem principal deste livro. Reside num local pertencente à Oceânia, outrora denominado de Londres e dedica a sua vida ao Partido, pois não poderia existir se não o fizesse. Ocupa os seus dias com o trabalho num dos Ministérios que o Partido possui.
O seu departamento está encarregue de reescrever a história por conveniência à história do Grande Irmão. Tinha de apagar o passado como se de lápis e borracha se tratasse, eliminando dados, guerras e pessoas.
O problema surge quando uma revolta surda começa a crescer em Winston a cada nova mentira escrita.
Na minha opinião, a parte mais interessante deste livro foi a construção do mundo distópico. Orwell teve muita atenção a inúmeros detalhes que, de certa maneira, acabam por nos integrar e relacionar ainda mais com o que se passa naquele livro. Penso que, por exemplo, sem a explicação de como funcionava o governo, como a sua divisão em quatro ministérios, sem a referência à construção da “novafala” e sem o aspeto do uso dos “telecrã” a obra não seria tão rica. Desta forma, conseguimos envolver-nos muito mais no mundo das personagens e também no seu raciocínio em concreto, pois, sem perceber o que os envolvia, não iríamos perceber as suas atitudes.
A parte que mais me desiludiu nesta obra foi quando a personagem principal teve na sua posse um livro contra o partido, que foi inserido na obra para que conseguíssemos ler o que ela leu. Apesar de parecer um conceito útil que, de certa forma, acabaria por nos envolver ainda mais na história, achei a realização bastante monótona e cansativa para o leitor e, honestamente, não acrescentou nada ao livro.
Ao ler esta obra refleti imenso sobre o quão preocupante é o totalitarismo. Como é o propósito da crítica social, o autor faz com que repensemos sobre o mundo em que vivemos, sobre as condições dele e se somos realmente seres com livre-arbítrio ou se somos apenas uma espécie de máquinas a agir em prol de algo ou alguém.
Aconselho este livro pelo seu mundo distópico e pela crítica social que traz consigo. Infelizmente, muito já foi feito pelos totalitaristas e ditadores, algo que, ao contrário do mundo em que Winston vivia, não pode ser apagado. Ao lermos sobre este mundo tão assustador, onde as pessoas são doentes e paranoicas, sentimo-nos agradecidos pelo facto de ser tão irreal. O problema é que isto não é verdade. Claro que de uma forma bastante exagerada (pelo menos no presente em que vivemos), Orwell criticou o que já aconteceu e acontece devido ao poder destas forças em vários países do mundo. O controlo social é uma realidade e, para o entendermos melhor, ler este livro é uma ótima opção.
Mara Costa, 12º B