Ditadura: um mal que veio para ficar…

 

Ditadura

Um mal que veio para ficar…

Atualmente, segundo o relatório da Freedom House, no mundo existem quarenta e nove ditaduras: dezoito na África Subsariana, doze no Médio Oriente e Norte de África, oito na Ásia-Pacífico, sete na Europa e Ásia, três na América, e uma na Europa. 
Para o filósofo político e historiador italiano Norberto Bobbio, nos dias de hoje, uma ditadura é um regime que se caracteriza “pela concentração absoluta do poder e pela subversão da ordem política anterior.” 
São razões económicas, crise, insegurança, desemprego e pobreza que muitas vezes levam as pessoas a seguir ideologias que não são as melhores. O Papa Francisco disse: “As ditaduras começam com a comunicação caluniosa”. É também frequente ouvir-se que o medo é a sua receita. Além disso, a ignorância é fundamental, claro, se nos colocarmos na posição dos ditadores! É muito fácil enganar alguém que pouco (ou nada) sabe. E essa é uma das razões pelas quais a educação se reveste de uma enorme importância em todo o mundo. O problema é quando determinados grupos se aproveitam da situação de fragilidade vivida pela sociedade para convencerem as pessoas a pensar e a agir de determinada forma. 
Ao contrário do que a maioria pensa, a instalação de uma ditadura é, normalmente, um processo gradual. Curiosamente, Hitler, uma das figuras da ditadura mais conhecidas e avassaladoras do mundo, e o seu partido obtiveram 37% dos votos nas eleições para o parlamento alemão a 31 de julho de 1932, tornando-se o partido nazi o maior da Alemanha. A II Guerra Mundial começaria sete anos depois… Até mesmo no caso português, antes de se dar o golpe de estado que deu início ao salazarismo, já Salazar era presidente do conselho de ministros, e, anteriormente, ministro das finanças. Uma vez instalados estes regimes, insegurança, guerras, violência e opressão tornam-se o dia a dia de muitos cidadãos.
Atualmente, estamos a assistir a uma tendência de crescimento das ditaduras e outras formas de opressão, na Europa, e no mundo. As ditaduras dominam mais de um terço dos regimes vigentes e são muito diferentes umas das outras. O autoritarismo russo não se identifica com o comunismo chinês, nem as práticas ditatoriais da Arábia Saudita com a Venezuela de Chávez e Maduro, a Frente Nacional de França não é propriamente igual ao regime autoritário polaco. Mas como é que isso é possível em pleno século XXI? O problema é que elas estão a adaptar-se aos tempos modernos e a encontrar as mais variadas formas de sobreviver. Uma delas passa pela ilusão da democracia. Por exemplo, face ao enorme crescimento económico chinês, bem como à sua abertura ao mundo, por vezes nem nos lembramos que a China é uma ditadura. Também a aparente abertura na Arábia Saudita em relação aos direitos das mulheres serve apenas para “enganar” o mundo ocidental e deste modo prosseguir com a ditadura. E é quando isto acontece que se torna mais difícil acabar com esses regimes.
Nestas ditaduras e nas correntes populistas já não há uma grande preocupação com modelos ideológicos muito fortes, o que sobressai é a exaltação nacionalista, os apelos à ordem e ao bem-estar da sociedade, defendidos de uma forma vaga e genérica. Muitas vezes o discurso associado ao crescimento económico e à melhoria das condições de vida da população é quase exclusivo, aproximando-as dos regimes democráticos. No entanto, existe também a “construção de inimigos externos” associados à comunidade internacional e às suas organizações. 
Outro motivo para estes regimes estarem em “alta” prende-se com o facto de a população em geral abordar estes assuntos de uma forma demasiado banal e despreocupada. Enquanto não houver uma real preocupação com os nossos “vizinhos” não veremos grandes mudanças. Porque, a isto, alia-se o facto de muitas pessoas que estão a viver a ditadura, por medo e ignorância, ou por determinados incentivos, defenderem o próprio regime opressor.
Para concluir, é inegável dizer que as ditaduras estão de volta, bem como manifestações populistas baseadas na construção do ódio e da xenofobia, considerando-se inevitável uma nova ordem onde a corrupção não tenha lugar. No fundo, o seu discurso não reflete os pontos positivos do seu regime, mas sim as fraquezas da democracia. A verdade é que há muitos fatores responsáveis pelas ditaduras passadas e por aquelas em que vivemos hoje, mas muitos comportamentos e atitudes da humanidade estão a contribuir para a ascensão e fortalecimento de regimes antidemocráticos, que parecem estar cada vez mais bem enraizados na sociedade. 

Foto: da autoria de Jeff Widener, conhecida como “o Homem dos Tanques” – Massacre de 1989, na Praça da Paz Celestial, China.

José Tojal, 12.ºA