JANELAS DE ESPERANÇA - Cartas aos Avós

Cartas aos Avós

O projeto "Janelas de esperança", desenvolvido pelo professor de Português Marelo Moreira com os alunos, nasceu de outro mais alargado da DAC das turmas B e C do 10º Ano, intitulado "As grandes epidemias no passado e no presente. Como combatê-las e como preveni-las?”  https://sites.google.com/aeof.pt/2021dac10c/home 

Aproximar gerações, estabelecer laços intergeracionais, num ano tão dramático e doloroso para todos, mas principalmente para os idosos, dar “algum calor humano, algum aconchego” a quem mais precisava, foi o objetivo principal. Assim, as turmas decidiram escrever aos idosos do Lar da Misericórdia Nossa Senhora dos Milagres, em Oliveira de Frades. Cada aluno/“neto” escreveu uma carta ao seu “avô/avó”, felicitando-o pela coragem no combate a esta terrível praga, mas também encorajando-o a continuar a sua luta. Para além das cartas individuais, foi também escrita por cada turma uma carta dirigida aos idosos. A correspondência foi entregue no dia vinte e três de junho, pelo professor de Português, no lar, acompanhada de um ramo de flores. Inicialmente estava previsto ir o delegado e subdelegado das turmas, mas por razões de saúde pública, seria de todo imprudente a presença dos alunos, que, como se pode aqui testemunhar, participaram com muito empenho no projeto.


JANELAS DE ESPERANÇA

Olá querido avô, querida avó.

Somos alunos do 10º ano, da turma B, da Escola Básica e Secundária de Oliveira de Frades.

Passado este rigoroso e fustigante inverno que a todos nos obrigou a permanecer nas nossas respetivas “tocas”, longe de tudo e de todos, chega a primavera com o seu esplendoroso sorriso que desabrocha em janelas de esperança.

A todos vos trazemos diariamente no pensamento, uns por parentes, outros por amigos e outros ainda por carinho simplesmente, mas não queríamos deixar passar esta oportunidade de vos escrevermos umas breves palavras de agradecimento e conforto a todos vós pela coragem e determinação que revelastes ao longo deste período de quase sem fim à vista. Para além desta carta coletiva, cada um de vós irá receber uma carta de um “neto” que com muito carinho e consideração vos escreveu.

Quase todos nós ainda temos, graças a Deus, avós e vimos de tão perto o quão difícil tem sido ultrapassar esta fase tão complexa que a todos tocou, mas principalmente a vós, queridos “avôs e avós”. Por isso, decidimos escrever-vos para, em primeiro lugar, vos dar os parabéns por terdes vencido este inimigo terrível e tão invisível que a todos transtornou. Talvez não tenha havido na história da humanidade guerra tão cruel e tão pouco sangrenta que tenha ceifado tantas vítimas quanto esta. Inimigo cruel este que tão tarde se manifestou! Usou de todas as táticas para um bom disfarce e entrincheirou-se tão bem que a todos passou despercebido, ou melhor, nem a todos, alguns não o quiseram ver e denunciar. E é pena que assim tenha sido.

É nas grandes guerras que se imortalizam os grandes e valentes guerreiros, combatendo exasperadamente o inimigo. Uns não conseguiram, infelizmente, sobreviver, mas foram tão heróis quanto todos nós, e principalmente vós, soldados veteranos, que conseguistes vencer com heroísmo e determinação esta dura batalha, muitas vezes sem as armas adequadas a tão grande guerra.

No campo de guerra que é a vida, a coragem é a arma do guerreiro e, de facto, vós fostes, sem dúvida, os guerreiros mais corajosos!

Agora com o inimigo quase vencido é tempo de saborear o que a vida tem de bom, uma boa conversa de amigos ou entre familiares, uma escapadinha, mais que não seja fora da “toca”, e, porque não, uma pequena patuscada acompanhada de um branquinho ou um tintozinho.

Janelas de esperança é o que desejamos a todos vós e que a brisa primaveril suavize as vossos dias e vidas.

Com todo o amor e carinho

Os alunos do 10º B

Escola Básica e Secundária de Oliveira de Frades, 09 de junho de 2021

 

JANELAS DE ESPERANÇA

Avós,

Não se esqueçam

Toda vivalma é propensa

Para que o riso floresça.

 

E, se já não viram, verão

Tanta boa vida que houve e há

Tolhe a raiz e turva a má.

 

O mal não vigora sempre.

E menos ele se sente

Quando circundados de boa gente!

E por boa sorte, o quanto se não implora!

 

Todavia, está a janela aberta

E a esperança, catraia, espia.

Vem o fado de veludosa coberta

Aconchegar o interior com alegria!

 

Aqui estão os sonhos e desejos de jovens que aspiram ser os futuros poetas, músicos, pintores, fotógrafos e outras tantas profissões que vos pareçam bem.

E a razão para escrever um poema junto deste breve e sucinto texto (da autoria do nosso colega Armando) é relembrar a todos os que passem os olhos (e ouvidos) por isto que os sonhos são coisas que não se esquecem. Seja ler um livro tão desejado, seja ver o sorriso de um neto, ouvir a voz de um filho, entre outros. Enquanto houver dias novos a alvorecer, as noites passarão como um franzino sopro de vento. Tendo a vossa experiência de vida como exemplo, pouco podemos dizer; mas de algo temos a certeza e fincamos o pé no chão por tal: não há mal que sempre dure, como diria Camões.

As janelas de esperanças nunca se fecham, seja a quem for!

Somos tripulantes da mesma embarcação e havemos de alcançar porto seguro. Todos juntos daremos fim a esta “peste” que tanto nos afetou e não deveremos ter medo de não voltar ao normal.

Temos também a agradecer-vos tudo o que fizeram pelas gerações que vos sucederam. Todos os ensinamentos e esforços feitos por vós tornaram-vos os alicerces do que Oliveira de Frades é hoje e deram ainda mais sentido ao que significa ser oliveirense.

Avô/Avó, nós, alunos do 10 C, esperamos que vos tenhamos conseguido alegrar um pouco os vossos dias, arrancado um sorriso. Os idosos com quem convivemos até nos dizem que somos bons rapazes e raparigas e parecem gostar de nós, por isso vejamos se temos a mesma sorte com vocês!

            E, já que ninguém nos vê, a verdade é que estamos a sorrir enquanto escrevemos esta carta. Não nos vão deixar a sorrir sozinhos. Combinado?

Que tudo corra bem e com muita saúde!

P.S. Aguardamos por uma resposta vossa.

Obrigado.  

Cumprimentos da turma C do 10º ano.  

Querido Senhor Armando, muito bom dia!

Só pelo nome já sabemos que é um homem de muitas batalhas e de muita força, um daqueles que não se rende, mas finca o pé no chão e sai sempre por cima. E, mesmo neste tempo bastante atribulado, sei que alguém como o senhor é capaz de dar a volta por cima novamente! E, ora, digo-o por um muito bem fundado motivo, também eu me chamo Armando.

Hoje vivemos estes tempos que vão ficar para a história com má fama. Mas a força do nosso nome dá vigor à esperança. Há de haver sempre janelas abertas, alusivas ao bom que a vida tem e ao quanto a vida ainda terá de melhor. Podemos até andar cingidos a certos espaços e a situações como usar a maldita máscara - e como não chateia andar com o bigode húmido o dia todo e querer uma lufada de ar fresco e não se poder ter - mas “não há mal ruim que muito dure”, como dizia a minha bisavó.

O mundo, mesmo que desconcertado e a meter os pés pelas mãos, há de ganhar tino de novo. E, finalmente, haveremos todos de ter o nosso normal. Não deixe que as janelas de esperança se fechem! Mantenha sempre o pensamento positivo e não se deixe ir a baixo.

E agora um toque mais pessoal: um poema de minha autoria.1

Este é um dos sonhos, daqueles muitos que os jovens têm, que mais me empenho para concretizar: o de ser poeta, um bom poeta. E para isso nunca deixo as janelas que trazem a esperança fecharem-se!

Gostaria também de receber conselhos seus, conselhos de sabedoria de quem já viveu tanto. Mas terá de ficar para outra altura. Se quiser tomar a iniciativa de responder a esta minha carta, ir-me-ia sentir lisonjeado e tomaria as suas palavras com muito carinho!

Cumprimentos.

Com muito orgulho e carinho

Armando Leal, 10c.

 1.  Nota: na carta conjunta do 10º C